O corpo físico, formado a partir do encontro do espermatozóide com o óvulo e o Espírito, ser pré-existente, ligando-se a ele a partir do mesmo encontro, através do perispírito (corpo que o envolve), constituem o homem.
O primeiro recebe as impressões do mundo exterior que levadas à alma (Espírito encarnado) pelo perispírito, são por ela percebidas, interpretadas, emitindo, então, as reações, as respostas ao corpo, pelo mesmo veículo.
O segundo, individualização do princípio inteligente do universo, imortal, encarna-se em mundos materiais para desenvolver-se e, ao mesmo tempo, cooperar no desenvolvimento da matéria, do mundo material.
Sendo o corpo e alma de naturezas diferentes e necessitando um do outro para desenvolver-se, o perispírito é o elemento indispensável para que ambos se relacionem e se influenciem.
O corpo, ser material orgânico que nasce, cresce, reproduz-se e morre, para exercer suas funções, dentre as quais manter seu funcionamento e sua sobrevivência, tem atributos, aptidões e necessidades próprias, que ele busca satisfazer, automaticamente, de forma instintiva.
A alma, ser espiritual, que sente, pensa, decide, age e se expressa no mundo material através do corpo, tem também atributos, aptidões e necessidades que lhe são próprias, que a impulsionam a uma evolução contínua, de forma consciente e inteligente.
Enquanto o corpo tende a satisfazer-se, a alma, como ser moral tem de desenvolver-se, educando-se usando os recursos compatíveis à finalidade desse desenvolvimento, que é alcançar a perfeição possível e a felicidade. E o corpo é o instrumento que a alma tem para esse trabalho.
Enquanto a existência durar, ambos devem trabalhar juntos, buscando viver em equilíbrio.
Na Introdução, em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec escreve: "O Espírito encarnado está sob a influência da matéria. O homem que supera essa influência pela elevação e purificação de sua alma, aproxima-se dos Bons Espíritos, com os quais estará um dia. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, aproxima-se dos Espíritos impuros, dando predominância à natureza animal".
Percebemos neste trecho, que o homem tem a influenciá-lo duas naturezas: a do corpo e a do Espírito e que este pode sobrepor-se à influência daquele, apesar de ambos estarem interligados, sendo afetados, reciprocamente, pelo que acontece com um ou com outro.
Como pois, podem ambos viver em harmonia, sendo de naturezas diferentes e tendo atributos, aptidões e necessidades também diferentes?
O Espiritismo, demonstrando as relações existentes entre corpo e alma, esclarece que os dois são, reciprocamente necessários, sendo pois, indispensável cuidar bem de ambos. Sendo o corpo instrumento de evolução para o Espírito, é preciso conhecer as suas necessidades, satisfazê-las sem prejudicar as necessidades da alma, que é quem sente, pensa e age.
O homem, sabendo-se Espírito imortal, mas não sendo ainda obra acabada, tendo de completar-se através do desenvolvimento dos seus atributos, tem de assumir sua evolução, com discernimento, no uso dos recursos que o viver na Terra lhe propicia, dentre os quais, o corpo se destaca como imprescindível.
Assim, a vida corporal, sendo apenas uma passagem na vida do Espírito imortal, deve ser vivida, primordialmente, em função desse Espírito e não em função do corpo, que deve ser amado, cuidado, satisfeito nas suas necessidades, respeitado como instrumento precioso que é, mas, não como preocupação primeira e maior da existência.
O ponto de partida pelo qual devemos encarar a vida terrena é, justamente, colocarmo-nos, pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita. Quando assim se faz, dá-se à vida material e aos seus acontecimentos, o seu valor real, sem exageros, sem excessos.
O corpo, que irá desfazer-se pela morte, será, então, valorizado pela sua importância para a evolução do Espírito. Não será menosprezado, depreciado, nem colocado acima do ser espiritual, que é o senhor, o ser pensante, aquele que estará, eternamente, "exercitando a vida".
O homem consciente da sua imortalidade saberá usar seu discernimento na satisfação das necessidades do corpo e da alma, conseguindo o equilíbrio entre ambos, para um viver prazeroso e produtivo.
Valorizemos, pois nosso corpo físico: feio/bonito, doente/sadio, inteiro/deficiente como um bem valiosíssimo para o Espírito imortal. Cuidemos dele com carinho, com dedicação, com discernimento e gratidão pela oportunidade que ele nos dá de manifestarmo-nos, de expressar nossas emoções, nossos sentimentos, nossos propósitos e ideais, enfim, pela oportunidade de, nesta existência, podermos aprender, ensinar, relacionar com os outros, fazer amigos, perdoar e amar, compreendendo-o como instrumento de evolução do Espírito imortal.
Bibliografia:
•O Livro dos Espíritos - Allan Kardec: Introdução item VI e cap. VII do Livro 2.° - q. 367 a 379a.
•O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec: cap. XVII. item 11.
(Jornal Verdade e Luz Nº 182 de Março de 2001)